Darwin – O Homem que Matou Deus
Se você e uma barata fizerem as árvores genealógicas de vocês, vão chegar a um antepassado comum, um indivíduo que você e ela podem chamar de avô. Um indivíduo mais parecido com uma barata do que com os seus pais, mas ainda assim ancestral direto tanto seu quanto dela.
Esse sujeito viveu há mais ou menos 500 milhões de anos.
Indo um pouco mais para trás nessa árvore genealógica aparece nosso
ancestral comum com as bactérias. Ou seja: do ponto de vista da
“criação” não somos mais especiais do que os nossos parasitas. Foi o que
Darwin concluiu. Ao destruir o mito de que o homem é o centro da
criação, ele tornou a ideia da existência de Deus menos necessária. De
quebra, desvendou boa parte do sentido da vida. E provavelmente do
Universo. É o que você vai ver daqui uns 15 minutos de texto. Mas antes
vamos à história do Adão da vida real, o ancestral de todas as coisas
vivas, e que brotou da lama.
***Bom, antes de brotar da lama ele vivia em algum lugar. Esse Adão provavelmente era uma molécula de carbono que se formou antes de o Sol ter surgido, dentro da fornalha nuclear de alguma outra estrela. Essa outra estrela morreu em algum ponto da história do Universo. Quando uma estrela morre, ela geralmente explode, liberando no espaço os átomos que nasceram lá dentro. Inclusive os de carbono, que formam a base do seu corpo agora. Soltos no vácuo, alguns desses átomos de carbono se juntaram em cadeias, formando moléculas. E quando a Terra nasceu, no mesmo quiprocó espacial que deu origem ao Sol, há 4,5 bilhões de anos, algumas dessas moléculas vieram parar na nossa superfície.
Uma superfície conturbada. A infância da Terra foi traumática, infestada por vulcões e impactos contínuos de asteroides. Numa dessas explosões épicas, bateu aqui um astro do tamanho de Marte. A explosão foi tão violenta que o maior resquício dela continua bem aqui sobre as nossas cabeças: toneladas de rocha que um dia foram parte da superfície da Terra, aglomeradas numa bola flutuante que a gente chama de “Lua”. Outros impactos foram mais produtivos: caso das bilhões de pancadas com cometas. A melhor definição para um cometa talvez seja “asteroide de gelo”. E foi do gelo deles que veio toda a água da Terra.
Na infância do planeta, o gelo dos cometas foi criando um lamaçal (que depois viraria o mar). E nesse híbrido de sertão e mar algumas daquelas moléculas de carbono encontraram um porto seguro. O lodo era um ambiente propício para que elas se juntassem, formando cadeias cada vez mais longas e complexas. Uma hora, como quem não quer nada, apareceu um estranho nesse ninho molecular. Um acidente da natureza. Era uma molécula de carbono capaz de se replicar, de sugar matéria do ambiente e usar como matéria-prima para produzir cópias dela mesma. Motivo? Nenhum: ela fazia réplicas por fazer e pronto. Vai entender.
Essa aparição foi algo tão improvável quanto se esta tela
comesse seus dedos agora e, a partir dos átomos da sua carne, pele e
ossos, construísse uma cópia dela mesma. Improvável, mas foi exatamente o
que aconteceu naquele dia.
E não havia nada ali para conter o apetite da molécula
devoradora. Ainda mais porque arranjar matéria-prima, ou seja, “comida”,
nesse caldo primitivo era fácil: bastava “pescar” nutrientes na água.
Assim a molécula primordial cresceu e se multiplicou. Mas tinha um
problema: nem sempre as réplicas saíam perfeitas. Às vezes acontecia um
erro de cópia aqui, outro ali. Surgiam aberrações. “Um livro e tanto
escreveria o capelão do Diabo sobre os trabalhos desastrados,
esbanjadores, ineficientes e terrivelmente cruéis da natureza!”,
escreveria Darwin sobre esse processo bilhões de anos depois.
Esses erros aconteciam bem de vez em quando: um a cada
milhão de réplicas. Mas tempo é o que não falta nesse mundo. Então eles
foram se acumulando mais e mais. Só que alguns não davam em aberrações.
Muito pelo contrário. Algumas réplicas nasciam com uma mutação que as
fazia se multiplicar mais em menos tempo. E não demorou para essas
mutantes mais férteis dominarem o mar. Só isso já é um tipo de seleção
natural. Mas a regra de Darwin só deu as caras para valer quando
aconteceu o inevitável: o mundo ficou pequeno para tantos replicadores.
Com a superpopulação, os ingredientes de que eles precisavam para fazer
suas cópias rarearam. Era a primeira crise de fome no planeta.
A saída? Ir para a briga. Mas estamos falando de moléculas,
que não têm lá muito poder de decisão. Foi aí que provavelmente surgiu
uma mutação inédita, que permitia a algumas moléculas comer outros
replicadores. Assim elas conseguiam eficiência total: arranjavam almoço e
eliminavam rivais ao mesmo tempo. Mas o domínio não duraria para
sempre. Com o tempo surgiram mutantes com capa protetora natural. Com
essa armadura, dava para comer os rivais sem o risco de ser comido.
Nasciam as primeiras células do mundo. “Os replicadores deixavam de
meramente existir e começavam a fazer contêineres para eles, veículos
para que pudessem continuar vivos. Os que sobreviveram foram os que
construíram ‘máquinas de sobrevivência’ para si”, escreveu o mais
notório dos neodarwinistas,Richard Dawkins.
Não demorou para virem células mutantes ainda mais
terríveis contra as rivais. Elas tinham o poder de juntar forças com
outras células e atacar unidas. E de fazer cópias de si mesmas numa
tacada só, como se todas fossem uma única molécula. Surgiam os primeiros
seres multicelulares.
E eles ficaram cada vez mais complexos: suas células
passaram a assumir funções distintas para operar sua máquina de
sobrevivência. Faziam como soldados num tanque de guerra: umas ficavam a
cargo da locomoção, na forma de nadadeiras; outras, dos “satélites”
para encontrar comida (visão, olfato).
E o progresso nunca parou. Tanto que hoje boa parte dos
replicadores vive em “robôs” imensos, feitos de milhares de trilhões de
células. Agora chamamos os replicadores de “genes”, e eles estão dentro
de nós. Somos sua máquina de sobrevivência.
Genes mutantes e as pressões da seleção natural fizeram
essa obra esplêndida que você vê no espelho todas as manhãs. Mas uma
coisa não mudou desde os tempos da primeira molécula replicadora –
aquele objetivo irracional: tudo o que os genes querem são fazer cópias
de si mesmos. Foi para isso que eles criaram nosso corpo e nossa mente. E
agora comandam a gente lá de dentro, por controle remoto, para que
trabalhemos em nome da preservação deles. A razão da sua existência?
Lutar para que os seus genes façam cópias deles mesmos do melhor jeito
possível.
Esse egoísmo dos genes é uma das chaves para descobrir como a nossa mente funciona. O próprio Darwin tinha escrito, no final de A Origem das Espécies:
“Agora a psicologia se assentará sobre um novo alicerce”. Demorou, mas
aconteceu. Uma nova ciência da mente ganhou terreno no final do século
20. Foi a psicologia evolucionista, que usa Darwin e a mecânica dos
genes para entender o que se passa aí dentro da sua cabeça.
Premissa número 1 dessa ciência: a mente já nasce quase
pronta. Ela não é uma folha em branco, em que qualquer coisa pode ser
“escrita”, como muitos filósofos e cientistas sociais defendem. Do ponto
de vista da psicologia evolucionista, não faz sentido dizer que a
cultura molda o nosso comportamento. Ela afirma que sua mente foi
forjada ao longo de toda a evolução. E que você vem ao mundo com todos
os “softwares” instalados no “hardware” da sua cabeça. Seus desejos, sua
personalidade e tudo o mais dependem desses programas mentais. Nossa
margem de manobra é pequena. E tem outra: a mente humana ganhou os
softwares que tem hoje nos últimos 200 000 anos, quando nossa espécie, o
Homo sapiens, veio ao mundo. Passamos 97% desse tempo em bandos
nômades, que viviam da caça e da coleta. Nossa mente, então, não passa
de uma ferramenta da Idade da Pedra tentando se virar num mundo que não
existe mais. Do ponto de vista dos nossos genes, ainda estamos no
Paleolítico, uma época sem faculdade, carreira, dinheiro ou
anticoncepcionais. Uma época em que só duas coisas realmente contavam: sexo e violência. No próximo bloco.
Se ainda sobrou alguma coisa que você queria saber sobre
sexo, mas não tinha coragem de perguntar, talvez a resposta dos
evolucionistas sirva: ele é a forma que os genes arrumaram para melhorar
as defesas da sua máquina de sobrevivência. Por exemplo: se você tem um
sistema imunológico que não sabe se defender de algum vírus, e tudo o
que você sabe fazer para se reproduzir são cópias de si mesmo, como
aquelas primeiras células, seus rebentos vão ter esse problema. E o clã
inteiro vai mor-rer no caso de um ataque.
Agora, se você combina seus genes com o de um ser imune ao
tal vírus, a história é outra: teo-ricamente, só uma parte do clã
morreria. E o resto continuaria passando seus genes adiante como se nada
tivesse acontecido.
Ao criar esse tipo inovador de reprodução, a seleção
natural tratou de dividir o trabalho entre dois tipos de funcionários
especializados. Um teria a função de tentar pôr seus genes em qualquer
máquina de sobrevivência que cruzasse seu caminho. O outro selecionaria
entre esses primeiros quais têm os melhores genes para compartilhar e
cuidaria da cria que os dois tivessem juntos. Em outras palavras, o
mundo se dividia entre machos e fêmeas (em algumas espécies, os papéis
se invertem: os filhotes ficam a cargo dos machos, então eles é que são
os mais paquerados).
Enfim, ao ganhar o poder de decidir quais machos terão
filhos e quais ficarão na prateleira, as fêmeas assumiram o controle da
evolução na maioria das espécies. E, para a psicologia evolutiva, é isso
que determina aquilo que mais importa na vida: a propagação dos nossos
genes, coisa também conhecida como vida afetiva e sexual.
O sexo, hoje, tem pouca relação com o ato de fazer filhos.
Você sabe. Nenhum adolescente pensa em engravidar 10 meninas quando vai
viajar para o Carnaval. Mas os genes dele não fazem idéia de que existem
camisinhas e tudo o mais, então deixam o rapaz com vontade de transar
com 10 garotas e pronto. Se tudo der certo, esses genes poderão
instalar-se no útero de um monte de meninas e construir um monte de
bebês (várias máquinas de sobrevivência novinhas!).
Do ponto de vista das fêmeas a história é outra: transar
com 10 sujeitos num feriado não vai “render” 10 filhos para os genes
dela se instalarem. Vai dar é uma baita dor de cabeça. Os contraceptivos
poderiam deixá-las livres para fazer sexo só pelo prazer com um monte
de seres do sexo oposto, como qualquer homem faz (ou tenta fazer). Mas
não. O cérebro delas evoluiu para selecionar os melhores parceiros, ter
poucos (e bons) filhos, não para tentar a sorte com qualquer um. Sem
falar que, do tempo dos nossos ancestrais caçadores-coletores até o
século 20, sexo casual para elas era correr o risco de acabar com um
bebê indesejado. Aí não tem ideologia liberal nem pílula que dê conta de
superar esse “trauma” evolutivo.
Psicólogos da Universidade Stanford checaram isso com uma
experiência simples. Contrataram homens e mulheres atraentes para
abordar estudantes e dizer: “Você gostaria de ir para a cama comigo
hoje?” Nenhuma mulher aceitou. Já as garotas tiveram resultados
melhores: 75% dos homens toparam no ato. Dos 25% restantes, a maioria
pediu desculpas, explicando que tinha marcado de sair com a namorada.
Pois é: do ponto de vista da seleção natural, uma bela fêmea disponível é
um bem valioso demais para ser desperdiçado. Nenhum homem se surpreende
com isso (o pessoal da obra não está só brincando quando diz “ô, lá em
casa!”), mas para as mulheres a verdade da psicologia evolucionista pode
soar assustadora: “O desejo de variedade sexual nos homens é
insaciável. Quanto maior for o número de mulheres com quem um homem
tiver relações, mais filhos ele terá [pelo menos é o que os genes
´pensam´]. Então demais nunca é o bastante”, escreveu outro guru do
neodarwinismo, o psicólogo Steven Pinker, da Universidade Harvard, nos
EUA.
Esse apetite todo também ajuda a explicar as raízes de
outro comportamento ancestral: a violência. Os despojos de guerra mais
comuns nos conflitos tribais sempre foram as mulheres. Não é à toa que
uma das lendas sobre a fundação de Roma, que aconteceu no século 8 a.C.,
celebra o dia em que os primeiros romanos atacaram uma tribo vizinha, a
dos sabinos, e raptaram as mulheres deles para começar sua civilização.
Não dá para dizer que não deu certo.
E esse é o ponto: às vezes a violência é, sim, o melhor
jeito de conseguir alguma coisa. Então não há mistério para a psicologia
evolucionista: como a violência funcionou ao longo da história, está
impregnada nos nossos genes. “Os bebês só não matam uns aos outros
porque não lhes damos acesso a facas e revólveres”, disse o pediatra e
psicólogo Richard Tremblay, da Universidade de Montreal, em uma
entrevista à revista americana Science. A grande questão, ele completa,
não é como as crianças aprendem a agredir, mas como elas aprendem a não
fazer isso.
Intrigante, mas o psicólogo evolucionista Eduardo Ottoni,
da USP, tem a resposta na ponta da língua: “A coisa mais complicada na
vida de um primata é a capacidade de se virar em sociedades complexas. E
se dar bem socialmente não é dar bifa em todo mundo”. Então nada melhor
que um pouco de altruísmo com alguns para ficar bonito na foto. Os
morcegos que o digam: entre as espécies que se alimentam de sangue, a
vida não é fácil. Nem sempre dá para voltar pra caverna com o almoço na
barriga. Mas os que conseguiram sangue durante o dia dão uma força aos
malsucedidos, oferecendo a eles o sangue que sobrou na boca. Mas não tem
conversa: quem não retribuir a oferta quando a situação for inversa
fica com a reputação manchada e é banido do almoço grátis.
Mas em alguns casos somos altruístas sem querer nada em
troca, nem inconscientemente. Isso acontece quando o assunto é a sua
família. E é aí que fica mais clara a forma como os genes nos dominam.
Você é uma máquina de sobrevivência dos seus genes, que o
usam para se reproduzir. Ok. Mas o que aconteceria se esses genes
tivessem construído um cérebro capaz de detectar cópias deles em outro
corpo? O seguinte: eles também lutariam pela sobrevivência desse corpo.
Fariam você se sentir aliviado com bem-estar dele.
O fato é que os genes construíram esse sistema de detecção.
Todos os cérebros têm isso em algum grau. E o altruísmo puro é
exatamente o que acontece quando dois animais são parentes próximos.
Existe uma chance em duas de que qualquer um dos seus genes
esteja no seu irmão ou no seu filho. E 1 em 8 de que esteja em um
primo. Sendo assim, o que o neodarwinismo diz é: você não “ama” seus
filhos e irmãos. São seus genes que vêem neles maneiras de se perpetuar.
E é por isso que você os ajuda. O geneticista John Haldane (1892-1964),
um dos pioneiros do neodarwinismo, quis deixar isso claro quando lhe
perguntaram se ele daria a vida por um irmão. A resposta: “Não. Mas
daria por 2 irmãos ou 8 primos”.
O mesmo vale para quando nos apaixonamos. Se você ama
alguém, quer ter filhos com essa pessoa, quer colocar seus replicadores
ali e se esfolar para cuidar dos rebentos. Aí, para o futuro dos genes,
sua vida só faz sentido se aquela pessoa existir. E o sentimento é tão
poderoso que parece eterno enquanto dura.
Outra coisa que determina a hierarquia entre parentes é a
expectativa de que eles se reproduzam. Daí os pais se sacrificarem mais
pelos filhos do que os filhos pelos pais. Responda rápido: se você
tivesse que decidir entre a morte de 20 estranhos e a vida do seu filho,
ficaria com qual opção? Ou melhor: existe algum número de pessoas que
valha a vida de um filho? Para a psicologia evolucionista, não. Para o
Zé Mané do boteco e a dona Cleide da quitanda também não. O egoísmo dos
genes aí dentro é maior do que tudo o que tem do lado de fora.
Falando em lado de fora, e o lado de fora? A evolução seria um
fenômeno circunscrito à vida na Terra ou algo universal, como as leis da
física? O físico Lee Smolin, do Perimeter Institute, no Canadá, fica
com a opção 2.
Smolin mandou as regras de Darwin para o espaço.
Literalmente: criou uma teoria que aplica a seleção natural ao Universo
inteiro. E foi além. Para ele (e outros físicos), nosso Universo é só
mais um entre bilhões e bilhões. Todos juntos num Cosmos imensurável que
podemos chamar de Multiverso. Nesse cenário, os universos são os
indivíduos, os replicadores. Cada um lutando para fazer mais e mais
cópias de si mesmo.
Bom, este Universo aqui começou quando toda matéria, tempo e
espaço que conhecemos estavam espremidos em algo infinitamente pequeno.
Esse pontinho explodiu no “dia” do Big Bang, há 13,7 bilhões de anos, e
agora estamos aqui. A explosão que deu origem ao Universo, por sinal,
aconteceu bem aí, no lugar onde você está agora. É um fato: no momento
do Big Bang todos os lugares estavam no mesmo lugar, ocupando um espaço
bem menor que o pingo deste “i”. O nosso Universo continua sendo só essa
parte interna do Big Bang.
Mas tem uma coisa: existem alguns lugares no Universo em
que tudo também está espremido em espaços menores que um pingo de “i”
agora mesmo. São os buracos negros, que sugam tudo o que está à volta
deles, inclusive o tempo e o espaço. Por isso, Smolin imagina que dentro
de cada buraco negro há um Big Bang acontecendo. E os buracos seriam
como “gametas” cósmicos: dariam à luz novos universos, parecidos com o
“pai”. Smolin considera, então, que as “espécies” mais bem-sucedidas no
Multiverso são justamente as que produzem mais buracos negros – a
“prole” delas vai ser seguramente maior.
Lembre-se que buracos negros são estrelas mortas. E daí?
Daí que, quanto maior for o número de estrelas, maior vai ser o de
“gametas”. Mais: as nuvens de matéria onde as estrelas nascem, como as
da foto aqui em cima, precisam ser bem frias (por motivos que só daria
para explicar com uns 2 mil caracteres sobre física molecular – melhor
pular). Bom, e sabe que tipo de coisa é o que há de melhor para esfriar
essas nuvens cósmicas? Moléculas de carbono. Elas mesmas, as que deram o
pontapé inicial na vida por aqui. Quanto mais delas houver por aí, mais
“filhos” um Universo vai gerar.
Então nós, os descendentes dessas moléculas, podemos ser um
mero subproduto da verdadeira seleção natural, a do Cosmos. Parece
desolador, mas, se for isso mesmo, os habitantes deste planeta podem se
orgulhar de saber que as leis de Darwin governam tudo isso.
Ou até mais do que isso. Baruch Spinoza, um filósofo holandês do
século 17, defendia que Deus e Universo são só dois nomes para uma coisa
só; que o Criador não é exatamente um criador, mas a grande regra que
move o Cosmos. Se você gosta desse ponto de vista (Einstein gostava)
pode imaginar tranquilamente: Darwin não matou Deus. Só descobriu onde
ele realmente está.